O texto a seguir foi um desabafo que fiz ante a uma colocação de uma pessoa que se dizia 'universitária' sobre o advento da construção do nosso teatro municipal em Uberlândia.
Eu o enviei para o quadro Opinião do Leitor, do Jornal Correio de Uberlândia, mas não foi aceito. Então estou postando agora.
opinião do leitor - jornal correio - 27/julho/2008
opinião do leitor - jornal correio - 27/julho/2008
Há momentos em que eu leio
ou assisto coisas inimagináveis, que me deixam em perplexo estado de revolta e
espanto e com a sensação de estar em meio a um pesadelo que parece não ter fim.
São tantos atos violentos, tanto desrespeito aos direitos civis e outras coisas
do gênero, que sinto que há duas paredes que se movem tentando nos esmagar, e
não temos como e nem para onde fugir. E nestes momentos, como educadora que
sou, tento levar um pouco mais de minhas experiências de vida para a sala de
aula a fim de tentar prevenir coisas absurdas como a que li outro dia no Jornal
Correio. Uma universitária, de nome Maria Abadia, disse ser contra a construção
do teatro municipal uma vez que isto (o teatro) “é coisa do passado” e que tais
verbas deveriam sofrer outro destino.
Imaginem, queridos leitores que, se alguém com poder de
veto, ouvisse uma opinião tal como esta, e resolvesse aceitar e cancelar a
federalização da UFU, que ocorreu há mais ou menos 40 anos. Hoje não teríamos este
bem público e federal, onde se produzem inúmeras formas de conhecimento e
cultura, onde milhares de pessoas já receberam seus diplomas e, hoje, atuam em
diversas esferas sociais, em diversos lugares, não apenas no Brasil como em
outros países. E estou citando apenas a UFU, que é uma instituição que conheço
bem. O que seria da cidade de Uberlândia, dos negócios, da multiplicidade de
coisas que aqui ocorrem devido aos milhares de estudantes que aqui residem.
É bom ressaltar que verbas
públicas destinadas a quaisquer construções, realizações ou projetos públicos,
passam por rigorosos processos de avaliação. Esta verba que tem vindo para o
município de Uberlândia é tão somente para a construção do teatro municipal, e
não pode ser (simplesmente ao deus dará!) destinada a outros projetos de
“cultura para a juventude”.
Quero contar uma de minhas
experiências enquanto integrante do Coral da UFU que poderá exemplificar a
importância de um teatro municipal adequado. Fomos convidados a apresentar a
ópera O Guarani (do grandioso maestro Carlos Gomes), em uma
cidade na região do Alto-Paranaíba. A hospitalidade anfitriã foi excelente e
fizemos uma belíssima apresentação apesar de alguns problemas que apareceram. O
local em que iríamos apresentar era um antigo cinema (desativado). O palco era
minúsculo. Não havia coxias suficientes para todos coralistas ou solistas,
enquanto estes não estavam em
cena. E o camarim, fora totalmente improvisado atrás do palco
entrecortado com meia-luz e cortinas semitransparentes. E aí, meus caros, neste
momento temos que ter alma de artista (e de esportista) e amar o que fazemos
para não desistir de tudo.
É infinitamente pequeno
pensar que esta verba pública que veio e que ainda tem vindo para a construção
desta obra, beneficie apenas o município de Uberlândia. Este espaço é senão um
bem público maior, que servirá para todos os tipos de manifestações culturais
advindos de projetos públicos ou privados, que se destinem a contribuir com
toda uma sociedade. Este espaço servirá para apresentações de caráter regional,
nacional e porque não, internacional (Circu du Soleil, por exemplo).
Assim como o Coral da UFU e
tantas outras instituições e grupos da casa, amadores ou não, saíram para se
apresentar em outras cidades, poderemos também abrir espaço para que grupos
nacionais e internacionais (a cultura não possui fronteiras) tenham a
oportunidade de fazer o mesmo em nossa cidade, fazendo-a destacar-se também na
cultura, uma vez que já possui fama nos agro-negócios.
Lúcia Helena de Souza
(Professora de Inglês, Musicista, Poeta, Florista e Empresária do Ramo do Cacau
– e-mail: lucia_teacher@yahoo.com )